Ana Clara e eu nos conhecemos no meio de nossas vidas, já lá se vão uns trinta anos. O seu espírito rebelde, sagaz e jocoso sempre animou a todos. Aliava-se a isso um enorme dar-se aos outros. Nas encruzilhadas da vida nossos caminhos se desencontraram. Seguimos cada uma para seu lado, sempre críticas, amigas, cúmplices nas travessuras e em alguns desafios que se impunham.
Passados muitos anos, muitos, retomamos o velho companheirismo. E, em uma das incontáveis reuniões que fizemos contou-me, com seu ar maroto, que experimentava comigo um dejá-vu de quando ingressou na Ciências Sociais da PUC-Rio. Então, em seu primeiro dia de aula, dois estudantes desconhecidos lhe disseram “Olá coleguinha!”. Para sua grande surpresa lhe mostraram uma velha foto, em que estava ela de uniforme listrado e casaquinho, de mãos dadas com os dois no jardim de infância. Reataram a amizade, como se o tempo não houvesse passado. De certa forma, foi o que aconteceu conosco, desta feita para nos lançarmos à empreitada de dar corpo e organicidade a Anpur. Transformá-la em uma associação mais consistente. Ana Clara, minha querida amiga, irmã, cúmplice, você deixou um enorme vazio. E, agora apenas me resta dizer junto com os demais colegas da diretoria da ANPUR e muitos outros colegas que você fez ao redor do mundo durante a sua brilhante vida acadêmica e pessoal: adeus coleguinha!
Ester Limonad
Secretária Executiva Nacional da ANPUR
Presidente em exercício
Eu tive um período curto de contato com a professora Ana Clara, mas ele foi de uma intensidade que se prolongou desde 2005/06 no decorrer do meu mestrado no IPPUR até hoje. A sua presença e seu espírito elevado marcou seus alunos nas mais diversas gerações. Professora Ana Clara, um até breve.
ResponderExcluirFabio
Prezados amigos e amigas da ANPUR, lamentei a partida antes do combinado da Professora Ana Clara Ribeiro. Nós, colegas da área, do Instituto de Economia da Unicamp enviamos nossos sentimentos à família e saudades.
ResponderExcluirHumberto Miranda
CEDE - Centro de Estudo de Desenvolvimento Econômico/IE.UNICAMP
mestra maestra (ou, o q ela fazia era música)
ResponderExcluir“(...) descobri q o q faço é música e q música não é “uma das artes” mas a síntese da consequência da descoberta do corpo (...)”
Hélio Oiticica (o q eu faço é música)
Ana Clara era a madrinha do nosso grupo de pesquisa na Bahia, foi ela que nos incentivou à reestruturar o grupo, criar linhas de pesquisa, nos reconhecer de fato como um grupo. Generosa como sempre, ela nos ajudou nesta reformulação, participou ativamente de nossos seminários, encontros, publicações, projetos de pesquisa, defesas de dissertações e de teses, sempre com um enorme entusiasmo que nos contagiava. Ela era nossa madrinha da bateria. Uma bateria de tamanha multiplicidade de dissônancias e atonalidades que só uma verdadeira maestra conseguiria perceber ali, antes de nós mesmos, uma harmonia de conjunto e, mais do que isso, reconhecer as singularidades e diferenças de cada um, cada clave singular de nosso arranjo precário e instável. Ana Clara além de mestra era uma maestra, uma regente corporificada. Nunca deixou de fazer música. Formada pelo Conservatório Brasileiro em harmonia, contraponto e composição, ela nunca deixou de compor. Compunha com conceitos, ideias e palavras. Compunha textos, aulas e palestras. Compunha com a sociologia, a geografia e o urbanismo. Compunha com os ritmos, temas e melodias da experiência urbana. E, além de compor, ela regia corporalmente, como sua própria forma de ação no mundo. Uma grande maestra mestre, mestre na compreensão das micro-conjunturas, mestre na escuta do outro, maestra da experiência da alteridade. Regia a fala do Outro, dos tantos outros, mas ao invés de partituras, ela tecia cartografias. Cartografias das escutas do Outro, das resistências e das insurgências. Cartografias das ações, da vida coletiva e da vida vivida.
Viva a Vida!
Natal de 2011
Paola Berenstein Jacques
Coordenadora do Laboratório Urbano PPG-AU/FAUFBA
Integrante da diretoria da ANPUR - gestão de Ana Clara Torres Ribeiro